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Abril 17, 2025

As lições do partido Rinoceronte no Canadá

Olá, Lucas Lago aqui. Para preparar essa newsletter eu conversei com o candidato e antigo líder (2014 a 2024) do partido canadense “Rhinoceros Party”, Sébastien CôRhino.

É um partido criado como forma de protesto bem humorado, mas que acaba se tornando uma ótima lente para observar o sistema eleitoral e a política canadense.

No final da newsletter tem uma atualização sobre a eleição no Equador. Para surpresa de ninguém, o candidato que ignorava as regras parece ter ignorado as regras.


Informações gerais - Canadá

População

41 milhões

Eleitores

27,6 milhões

Sistema de votação

Distrital com maioria simples

Sistema de governo

Parlamentarista

Próxima eleição

28.abr.25


A criação do partido Rinoceronte

Diferente das outras edições, conversei dessa vez com um membro de um partido. Logo, o conteúdo será enviesado.

O Partido Rinoceronte do Canadá foi fundado em 1963 por Jacques Ferron, como um “partido de guerrilha intelectual”. O partido tem em seu plano de governo ideias que vão do completo absurdo à crítica regada a ironia:

  • Reduzir o número de acidentes de trabalho enrolando os trabalhadores em plástico bolha;

  • Abrir paraísos fiscais nas diversas cidades do país para ‘fazer com que o dinheiro estrangeiro seja local’;

  • Terminar o projeto de privatização do Senado, iniciado nos governos anteriores.

O nome “Rhinoceros Party” foi dado em homenagem à rinoceronte Cacareco, do zoológico do Rio de Janeiro. Cacareco foi eleita para a câmara dos vereadores de São Paulo com 100 mil votos em 1959.

Na última eleição, Cacareco seria a 8ª mais votada e teria cadeira garantida na câmara.

O Canadá possui muitos partidos que são de nicho, como o Bloco Quebequense –que defende somente interesses de uma província, ou de protesto. Além do Partido Rinoceronte, existe o partido Marijuana, com a óbvia pauta de legalizar a maconha.

Sebastién me explicou que para criar e manter um partido no Canadá são necessárias as assinaturas de somente duzentas e cinquenta pessoas elegíveis no país. Aqui no Brasil, em contraste, são cerca de 500 mil assinaturas.

Além dessa facilidade de montar partidos, é possível concorrer no Canadá como “independente”, sem apoio de nenhum partido.

A maior cédula eleitoral do mundo e outras presepadas dos rinocerontes

É visível o esforço do “Elections Canada”, o órgão organizador das eleições, em democratizar a participação dos canadenses. Criar um partido é simples, e além disso é possível ser candidato sem partido.

O Partido Rinoceronte, por ser um partido de protesto, acaba estressando diversos pontos da legislação eleitoral canadense. Na sua fundação nomearam um rinoceronte como líder do partido, que se manteve por décadas como líder até que o órgão responsável exigisse que o líder fosse um ser humano com capacidade de ser eleito.

Décadas depois, o partido cadastrou 2 candidatos no mesmo distrito. E, nos debates, os dois faziam questão de discordar 100% um do outro, o que também levou a ajustes na legislação.

É fácil olhar para essas fanfarronices como algo sem valor, mas é o tipo de ação que escancara o caráter performático dos diferentes elementos de um processo eleitoral.

Em 2019, já sob o comando de Sebastién, o partido trabalhou para agregar o maior número de candidatos em um distrito eleitoral. Como no Canadá a cédula deve conter o nome de todos os candidatos, a Elections Canada, foi obrigada a ditribuir cédulas com 91 nomes para um distrito da capital da província de Sascachevão.

Sebastién posa ao lado de um modelo da maior cédula eleitoral do mundo durante a entrevista.

O inescapável bipartidarismo nas colônias inglesas

Apesar das ideias cativantes do Partido Rinoceronte, tudo indica que nessas próximas eleições as duas maiores bancadas serão dos mesmo partidos de sempre: o Partido Liberal do Canadá (partido do Justin Trudeau e do Mark Carney, e que atualmente possui maioria) e o Partido Conservador do Canadá.

No início da corrida eleitoral o partido conservador apresentava uma vantagem e poderia ser o vencedor, mas os 90 dias do governo Trump mudaram esse cenário. Segundo o agregador de pesquisas 338canada.com, atualmente é mais provável que o partido liberal amplie a maioria dos assentos e Mark Carney siga como primeiro ministro.


Atualizações sobre a eleição no Equador

Na mais recente edição sobre uma eleição específica, falei sobre o pleito no nosso vizinho. A eleição ocorreu no domingo (13 de abril) e o resultado anunciado pelo Consejo Nacional Electoral foi de uma vitória folgada de Daniel Noboa, com cerca de 56% dos votos.

Diferente do caso da Venezuela, o resultado não foi questionado pelos observadores internacionais até o momento. Tudo indica que o Brasil vai acompanhar a posição dos observadores –já Gustavo Petro, da Colômbia, se posicionou contra.

Estão circulando nas redes sociais fotos de atas eleitorais que aparentam estar sem as devidas assinaturas, algo que levanta suspeitas sobre a lisura do processo.

Porém não é preciso entrar nesses detalhes para avaliar se houve lisura no processo eleitoral do Equador. O atual presidente, Daniel Noboa, repetidamente desrespeitou a legislação do país, pagou milhões em auxílios fora de época e no dia do segundo turno colocou quase todo o país sob estado de sítio, com militares supervisionando o processo eleitoral. Não são características de um processo democrático.

Me resta desejar sorte aos amigos Ola e Sara!


Ah, dois recadinhos finais:

  • Recomendo sempre que assistam os vídeos das entrevistas, obviamente não consigo trazer 1 hora de entrevista para o texto da news.

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