E o PT, hein? E o Edinho?

Olá, Lucas Lago aqui. Mais uma edição na qual o assunto principal são os partidos brasileiros. Dessa vez foco é no PT e na eleição do novo presidente nacional do partido.
Por conflitos de agenda, não consegui uma entrevista, mas felizmente pesquisadores publicam suas ideias, então a gente vai conseguir entrar em algumas coisas comentadas pelo entrevistado da edição passada.
Além disso, duas notas rápidas: uma sobre América Latina e outra sobre os EUA.
Quando o voto direto é menos democrático
Normalmente atribuímos o conceito “one person, one vote” como o ápice da representação democrática. Chega a parecer absurda a ideia de que uma decisão onde cada voto teve o mesmo peso, foi feita de forma livre e todos os votos foram computados, possa não ser democrática.
Mas em 1835, o visconde francês Alexis de Tocqueville decidiu estudar a democracia nos Estados Unidos e, apesar de muito animado com os resultados da democracia americana, vislumbrou a possibilidade dela levar ao autoritarismo através da “Tirania da Maioria”.
Quer ver um exemplo cristalino da ideia de como a Tirania da Maioria pode levar a decisões menos democráticas?
Os ex-presidente Jair Bolsonaro sugeriu certa vez que “as minorias têm que se adequar” e que as “as leis existem para proteger as maiorias”, em um contexto onde sugeria a redução dos direitos de homossexuais.
Mesmo que a maioria da população apoie essa ideia, ela é autoritária porque atravessa os direitos de um grupo minoritário.
E o PT, hein?
Nesse último domingo (06.jul) aconteceu o Processo de Eleição Direta (PED) do Partido dos Trabalhadores. Edinho Silva foi eleito com mais de 70% dos votos. Os candidatos de outras 3 tendências foram Rui Falcão (11%), Romênio Pereira (11%) e Valter Pomar (4%).
Dentro do PT, podemos considerar que tendências são equivalentes ao que seriam partidos na eleições gerais. E sim, o partido tem dezenas de tendências internas.
Edinho é da aliança de tendências “Construindo um Novo Brasil” nascida após o escândalo do mensalão, a mesma aliança da qual o presidente Lula faz parte.

O PED funciona da mesma forma que uma eleição, os filiados votam no representante municipal, estadual e presidente nacional do partido. Essa forma de escolha de dirigentes foi estabelecida em 2001 – junto com outras mudanças que enfraqueceram a base do partido, aumentando o poder da direção nacional.
Apesar do PED ser a expressão máxima da democracia do partido dos trabalhadores, ela não tem a mesma energia vibrante de um Encontro Nacional, que até 2001 era onde as lideranças eram escolhidas. As mudanças trouxeram um verniz de aumento da democracia, mas sem aumento real de poder da base de militantes.
O PT segue caminhando para onde José Dirceu apontou ao dizer que o PT deveria ser um “partido de cidadãos, e não de militantes”. Indicando um afastamento da ideia de ser um partido de tendências e próximo a sociedade civil, para se tornar um partido mais “profissional-eleitoral” focado em ganhar eleições, em vez de desenvolver pensamento de vanguarda.
A eleição pra prefeitura de Nova Iorque
Em 4 de novembro, teremos uma eleição que normalmente é muito protocolar nos Estados Unidos: Nova-iorquinos escolherão o novo prefeito da cidade.
A última vez que um candidato do Partido Republicano venceu por lá foi em 2005, com Michael Bloomberg. Ele foi reeleito em 2009 como independente e, desde então, a cidade só teve prefeituras do Partido Democrata.
A novidade desse ano é o candidato dos democratas e seu impacto na Janela de Overton e nas inúmeras análises sobre quais tecnologias ele usou para sua vitória surpreendente nas primárias: foi o TikTok? Foram as participações em Podcasts? Óbvio que não.
De qualquer forma, o debate político nos EUA está concentrado na figura de Zohran Mamdani, jovem, abertamente socialista, descendente de imigrantes.
Duas eleições esquentando na nossa vizinhança
Falando em eleições no segundo semestre, temos duas que já estão esquentando. E a situação das coligações que estão no governo são, no mínimo, interessantes.
No Chile, a comunista Jeanette Jara venceu as primárias nacionais da coalizão de centro-esquerda com 60% dos votos. A direita não realizou processo de primárias e tem, por enquanto, Evelyn Matthei como principal nome. Mas ela ainda não foi oficializada.
Jeanette contará com o apoio do presidente Gabriel Boric, que não pode concorrer, já que reeleições não são permitidas no país andino. O problema é que o apoio ao governo caiu vertiginosamente desde a eleição e atualmente está em 21%.
Na Bolívia, o partido governista “Movimiento al Socialismo - MAS” poderia colocar como candidato a eleição o presidente Luis Arce. Essa candidatura sofreu oposição interna de Evo Morales, nome histórico do partido e presidente do país por mais de uma década, que tentava viabilizar sua própria candidatura (proibida pela constituição boliviana, que só permite uma reeleição. Evo foi reeleito duas vezes).
A disputa Evo-Arce levou a saída de Evo do partido, seguida da sua candidatura por um partido menor (Frente Para la Victoria - FPV) que foi prontamente cancelada pela autoridade eleitoral, levando manifestantes pró-Evo às ruas. Arce desistiu da candidatura e o MAS concorrerá com o jovem Eduardo del Castillo, que foi Ministro de Governo (cargo responsável por regular as políticas públicas do país) no governo Arce.
A direita boliviana tem boas chances com os candidatos Doria Medina (atualmente liderando as pesquisas com 19% das intenções de votos) ou com o ex-presidente Jorge Quiroga (atualmente em segundo, com 16%). Eduardo, mesmo com apoio do governo, registra pouco mais de 1% das intenções de votos (mas deve crescer com o início da campanha).
Ainda não tenho tema para a newsletter da semana que vem. Mas sei que será sobre algum detalhe tecnológico dos processos eleitorais. Se tiver alguma sugestão, responde esse e-mail!