Giro eleitoral europeu: Portugal, Romênia e Vaticano

Olá, Lucas Lago aqui. Mais três eleições pra falar essa semana. Nessa edição vou passar por 3 países: Portugal, Romênia e Vaticano.
O conclave aconteceu sem muitas questões e o novo Papa é o Leão XIV, mas ainda acho que podemos falar um pouco. As outras duas acontecem nesse domingo, 18.mai.
A entrevista dessa edição é sobre a Romênia. O entrevistado é diretor executivo de uma ONG que defende direitos digitais no país incluindo diversos projetos juntos com a União Europeia: Bogdan Manoela.
Conclave – só Deus pra auditar
O conclave, assim como outras eleições indiretas, tem participação de poucas pessoas (133 cardeais, nesse ano) e com isso tem regras muito diferentes de uma eleição popular.
Por ser um processo que se repete a quase mil anos, ele é cheio de tradições, a maioria não serve como paralelo para eleições de outros lugares, mas uma delas é bastante útil: a tal da fumaça preta/branca.
Primeiro a resposta sobre a feitiçaria das fumaças terem cores tão prenunciadas: o Vaticano mistura componentes químicos específicos, como lactose, para conseguir a paleta certa pro chá revelação do novo papa.
Isso garante que quando acontece a queima das cédulas eleitorais a fumaça tem exatamente a cor que se espera.
O processo de escrutínio dos votos no conclave é bem simples: 3 cardeais olham cada voto, escrevem o nome em uma lista. No fim do processo os cardeais interessados conferem e passam cada voto por uma agulha com uma linha vermelha.

Após a conferência e anúncio dos resultados para os outros cardeais os votos são incinerados. Nada de resultados públicos, nada de atas eleitorais. Só conseguimos algumas informações por meio de uns cardeais abençoados com o dom da fofoca.
Meio que tudo tranquilo lá na Faixa dos Gajos
Nesse domingo (18-maio) acontece a eleição para a câmara em Portugal. Ano passado teve eleição, mas o primeiro-ministro Luis Montenegro caiu no começo de 2025 por conta de conflitos de interesses da sua empresa.
O governo lá é parlamentarista, e o método de cálculo de votos é similar ao da Alemanha. Preciso separar uma edição só pra explicar os diferentes métodos de quocientes eleitorais – tem pra todos os gostos.
Passada a turbulência inicial que levou ao fim do governo do Luis Montenegro, não temos grandes acontecimentos na eleição portuguesa. Inclusive a mesma coalizão (AD, de centro direita) deve ser a vencedora.
A única notícia que repercutiu desses dias que antecedem o pleito foi que o candidato do partido populista de direita ‘Chega’ André Ventura, passou mal ao beber um copo de água e foi internado.
Eleições canceladas por conta do TikTok na Romênia
Essa edição está saindo entre os dois turnos da eleição presidencial romena. O segundo turno que acontece nesse domingo deve definir o presidente do país, governado por interinos pelos últimos meses.
O motivo é que a eleição presidencial aconteceria no final de 2024, porém o aquele pleito foi cancelado pelo judiciário, por conta de levantamentos da inteligência romena, que mostraram que tanto TikTok quanto Telegram foram inundados por propaganda pró Călin Georgescu (candidato independente, de extrema-direita), financiadas por atores russos.
Georgescu havia recebido pouco mais de 20% dos votos e iria pro segundo turno contra Elena Lasconi, de centro-direita. Nessa nova eleição ele teve sua candidatura indeferida e Lasconi ficou com menos de 3% dos votos.
Segundo nosso entrevistado Bogdan, o candidato George Simion (do partido AUR [Aliança para a União dos Romenos], também de extrema-direita, e que havia amargado a quarta posição em 2024) se posicionou como herdeiro dos votos de Georgescu, que saiu do AUR em 2022.
Com isso, Simion conseguiu mais de 40% dos votos e vai com ampla vantagem para o segundo turno - disputando contra Nicușor Dan (também independente, de centro-direita) atual prefeito da capital Bucareste.
Duas coisas chamam a atenção no processo eleitoral da Romênia: a primeira, que ser de um partido (tradicional ou recém criado) é quase uma chaga para um candidato majoritário, algo que Bogdan imagina refletir uma desconfiança na política institucional.
A segunda é a incapacidade dos organizadores dos processos eleitorais de lidar com o impacto das redes sociais. Chegar ao extremo de ter que cancelar uma eleição por conta de contas artificiais no TikTok e Telegram, mostra que o país não tinha nenhuma ferramenta para mitigar o impacto. Aqui no Brasil tentamos em 2022 fazer acordos com as redes sociais, exigindo diversos compromissos das empresas.
Vamos seguir acompanhando para saber qual candidato de direita será o presidente da Romênia pelos próximos anos. O primeiro candidato que não é de direita ficou em quarto lugar na eleição desse ano, com 13% dos votos – e ele se descreve como centrista.
Resultados na Austrália e recadinho final
Na edição sobre a eleição na Austrália eu mencionei que sabíamos que a vitória seria ou de trabalhistas ou de liberais. Naquele momento as pesquisas indicavam uma indefinição com qualquer lado podendo levar.
No fim das contas o partido trabalhista obliterou* os liberais e seguirá por mais 3 anos no governo.
* Escolhi esse adjetivo em homenagem ao Sérgio Spagnuolo, que é um dos fundadores aqui do Núcleo e escreve a newsletter Appetrecho, sobre aplicativos. Vale conferir.